José Manoel Sobrinho


As artes cênicas desde sempre atraem as pessoas com sua magia de interpretar, improvisar e decalcar mundos e situações que muitas vezes passam despercebidas no dia a dia, assim como passam os que de alguma forma contribuem para que ela seja realizada, os que estão Por trás das Cortinas. Desde que percebeu que no teatro poderia problematizar as coisas da vida e do mundo, o coordenador de cultura do Serviço Social do Comércio (SESC), José Manoel Sobrinho, traça uma carreira de sonhos e conquistas onde ministrou, montou e realizou vários cursos e peças de teatro que circularam por todo o Estado. Hoje sua paixão e dedicação pela arte e o trabalho ficam expressas nos desafios de coordenar um grupo de 84 profissionais de artes e acompanhar as reformas dos teatros em alguns Estados.


Você já atuou em áreas que não são relacionadas com o teatro?
Desde cedo me envolvi com um conceito mais amplo de arte e cultura. Atuo com teatro, dança, artes plásticas, literatura, música, gestão cultural, política cultural e ensino da arte. Até mesmo com as áreas de ópera e cinema tive algum envolvimento, em menor escala. Quero me comunicar com o mundo, interferir de alguma maneira. Claro que minhas funções no SESC em Camaragibe me levaram para uma prática multidisciplinar. Mas já faço curadorias para galerias de artes, dirigi shows, dentre eles um com Paulo Diniz, me envolvi em espetáculos de dança com a Companhia Trapiá de Danças e Compassos, realizei ano passado a Plataforma Itinerante de Dança, por cidades do Estado, junto com Marilia Rameh. Fiz curadorias em festivais de teatro, dança e música em Pernambuco e em outros Estados.  Observo o mundo como um grande complexo e na medida das minhas possibilidades me envolvo nos diversos setores das artes. No SESC, ajudo a cuidar de cinco teatros, cinco galerias de artes, cineclubes, ateliês de artes visuais.

Você sempre teve uma participação no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), você acha que os festivais que existem são suficientes a ponto de atender às necessidades de quem produz arte no Estado?
Acostumei a ver que cada gestão estadual ou municipal dá a sua versão, o seu estilo, mas o Festival tem uma marca maior que supera todas as diversidades e
adversidades. Aliás, quero cometer o dever histórico de registrar que Teresa Amaral, atual coordenadora de Artes Cênicas da Fundarpe, é a profissional que participou ativamente de todas as edições do FIG. Sei que esses Festivais foram fundamentais no processo de descentralização e interiorização da arte, mas hoje os acho dispensáveis, obsoletos, grandes festas sem profundidade artística. Para a cadeia produtiva da arte e da cultura reconheço a sua importância. O poder público perde muito tempo para promover, realizar esses Festivais, gasta muito dinheiro. Esse tipo de evento tem que ser privatizado, mas submetido às orientações do Estado para não virarem um Recifolia. Acho o Recifolia uma das experiências mais esdrúxulas do Recife, não é nada, só um amontoado de gente se “digladiando”. Política pública é superior a festivais. O Estado necessita ser estruturador, fazer coisas duráveis, qualificar as casas de espetáculos, os museus, as galerias, os cinemas, pensar em ações regulares, sistemáticas e formativas.  Entender e priorizar as experiências de arte e gestão que brotam das companhias de teatro, de dança, dos ateliês coletivos de artes, dos centros culturais. Não compreendo os grandes festivais como ações estruturadoras. Enquanto isso os municípios ficam fora do padrão nacional proposto, sem conselhos de cultura, sem fundos de cultura, sem conferências de cultura, em suma, sem escuta aos reais promotores da cultura, que são os artistas e os produtores.

A literatura o atraiu por quê?
Sempre quis estudar literatura e história. Quando comecei a fazer parte da equipe do Prêmio SESC de Literatura e tive a oportunidade de ouvir escritores, críticos de arte, leitores, percebi como leitor que queria fazer isso, mas com um olhar mais especial. Estudei Letras na Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire) e depois entrei numa especialização em literaturas africanas de língua portuguesa também na Fafire.  O que sei é na condição de leitor, não me sinto em condições de dar aulas, mas gosto de conversar sobre o assunto.  É como se tivesse descoberto outras possibilidades de olhar o mundo.  É quase uma atitude adolescente, não nego, apesar dos meus 52 anos. Considero a literatura hoje uma das linguagens mais instigantes. Há uma grande rede brasileira que funciona de maneira espetacular, recorrendo com muita competência às redes sociais, utilizando-se de vários suportes e ocupando espaço. Os meios acadêmicos também estão presentes, fundações e instituições públicas e privadas. De fato acho a literatura algo extremamente atual e em sintonia com estes tempos.

Quais são os seus planos, suas expectativas em relação às artes cênicas?
Sou otimista, quero continuar trabalhando, tenho grandes desafios pessoais e profissionais pela frente.  Minha prioridade é atender à demanda do SESC através das missões que o professor Josias Albuquerque tem conferido a mim. É difícil acompanhar a velocidade dele, mas a equipe é boa, acredita no que faz e tem coragem para assumir desafios. Quero continuar sendo artista, não tenho medo de errar. Quero me permitir viver este país que está em seu melhor momento. Quero aproveitar, sou otimista, mas não desatento.








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